Ao oitavo dia de viagem trocámos a estrada pelo céu durante uma boa parte da manhã e fomos sobrevoar o Grand Canyon de avioneta.
O caminho desde Flagstaff até ao pequeno aeroporto é lindo! Tudo à volta é verdinho! Há estradas de terra batida e gado à solta, há campos de flores silvestres, longas extensões de floresta, quintas e celeiros... Enfim, um cenário muito campestre.
Quase custa a acreditar que ali tão perto a geografia muda tão drasticamente! Mas é verdade, e vendo do céu essa noção torna-se ainda mais real. Dá para ver onde as florestas terminam e os terrenos áridos do Grand Canyon começam, embora também exista alguma vegetação em determinadas zonas do Canyon. É fantástico ver o Colorado River e o ponto exacto em que a água passa de verde a castanha clara por influência do Little Colorado River.
Embora tenha adorado a experiência, teria gostado muito mais se não tivesse ficado enjoada a meio do passeio... Confesso que houve ali um momento em que tive de me agarrar ao saquinho de papel! Esteve quase, quase, a saltar-me pela boca a tigela de papas de aveia que tinha comido ao pequeno-almoço. Mas, felizmente, consegui controlar-me e evitar a vergonhaça! Fez-me lembrar as viagens de férias para a terra quando era miúda, em que não havia uma em que eu me escapasse de "ir ao grego"! Malditas curvas de Vila Velha de Rodão! O lado bom é que apesar do enjoo, parece que pelo menos agora consigo controlar melhor a coisa!
De volta a terra firme, e já recuperada, voltámos à Route 66. Depois de muitos quilómetros e algumas paragens para fotos, almoçámos em Seligman, no Snow Cap, o sitio mais kitsch onde alguma vez estive! Neste diner não se vêem janelas ou paredes porque estão cobertas de papéis e fotos deixadas pelos visitantes! Nada por ali tem um ar muito limpo e prefiro nem pensar no estado em que se encontra a cozinha... Mas fazer a Route 66 e não parar ali é quase um crime, este é um dos seus locais mais míticos. As traseiras estão cheias de carros antigos e muitas outras velharias.
O Snow Cap é conhecido pela boa disposição de quem lá trabalha. É habitual pregar partidas aos clientes e claro que nós não fomos excepção! Enquanto fazíamos o pedido, a pessoa que nos atendeu agarrou numa embalagem de mostarda e esguichou-a para cima de mim... Durante a fracção de segundos em que ele apertou a embalagem e eu vi um projéctil amarelo a vir ao meu encontro só pensei "mas que raio está ele a fazer?!". Já sabia que por ali eram todos uns brincalhões (vinha escrito no guia!) por isso calculei que aquele fosse um truque habitual. E estava certa! Daquela embalagem de mostarda a única coisa que sai é um cordel amarelo, sem qualquer dano para a nossa roupa!
O meu Mr. Big ficou apelidado de "Levi" por estar com uma t-shirt da Levi's e pouco depois de fazermos o pedido lá o chamaram pelo novo nome para ir buscar o almoço: um cachorro e um hambúrguer com batatas fritas a acompanhar, para variar! E para sobremesa, um belo geladinho!
De seguida fomos ao Visitor Center, que fica na antiga barbearia de Angel Delgadillo, uma figura importante da Route 66. Ele tem sido um dos principais defensores desta antiga estrada tendo criado, inclusivamente, a Historic Route 66 Association of Arizona. Estávamos com esperança de o conhecer, mas não tivemos sorte porque ele não estava por lá. Depois de passearmos um pouco e de tirarmos várias fotos aos elementos estranhos que por ali há, como manequins vestidos de Elvis e Marilyn Monroe, seguimos viagem até às Grand Canyon Caverns, mas as visitas já tinham encerrado para esse dia.
Pouco depois, parámos para abastecer e tivemos um encontro imediato de terceiro grau com um grupo de índios da tribo Hualapai que vinham do trabalho e passaram pela bomba para comprar garrafas de bebidas. Digo que foi um encontro de terceiro grau porque do nada começaram a conversar connosco e estavam super curiosos. Para eles era estranho que um casal de portugueses a viver em Nova Iorque tivesse qualquer interesse em estar ali, no que eles consideram ser o meio do nada. Um deles, provavelmente o mais novo, talvez ainda nem com 20 anos, estava fascinado. Ao mesmo tempo que nos dizia que um dia também queria ir para Nova Iorque, via-se que estava contente e orgulhoso por ver que a terra dele tinha algum interesse para outras pessoas. Foi, sem dúvida, mais um momento insólito que me marcou nesta viagem.
Quando eles, finalmente, nos "libertaram" despedimo-nos e voltámos à Route 66. Em Kingman tirámos fotos ao Mr. D'z Route 66 Diner bem catita e arranjadinho, tendo em conta que abriu portas em 1950! Como ainda não tínhamos fome, e também porque por ali só havia hambúrgueres e batatas fritas (e novidades?!), decidimos continuar o nosso caminho até encontrarmos alguma coisa diferente.
Se calhar fizemos mal, tendo em conta que quando chegámos a Needles, por volta das 22h já estava tudo a fechar... Acabámos a jantar num fast-food de comida mexicana, eu comi uma salada mega picante e o meu Mr. Big, um hambúrguer... Mas pelo menos este era de frango!
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A caminho do Grand Canyon! |
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A sobrevoar o Grand Canyon! Ah... Estava a haver um incêndio na área. |
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O Colorado River a mudar de cor! |
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Em Williams, conhecida pela sua proximidade relativamente ao Grand Canyon. |
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Em Seligman, no Snow Cap! Até um peluche do Alf lá está! |
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A esplanada do Snow Cap está "decorada" com todo o tipo de quinquilharias! |
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Almoçando na esplanada! |
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Os carros nas traseiras! |
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Em frente ao Snow Cap está o Aztec Motel cujas paredes estão cobertas de murais. |
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Junto ao Visitor Center, James Dean e Marilyn Monroe dão-nos as boas vindas! |
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No Visitor Center, que fica na antiga barbearia de Angel Degadillo. |
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Seligman é uma terra muito kitsch! Acho que há por lá mais manequins do que habitantes! |
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No Mr. D'z Route 66 Diner! Tão fofinho! |